Neuza Fernandes, minha avó

UMA PEQUENA BIOGRAFIA


Maria Neuza Fernandes
Catedral de Sant'Ana de Caicó, 25 de julho de 2006



1. A espada, a enxada, as serras...

A algumas léguas do centro de Caicó, seguindo pela estrada para São Miguel de Jucurutu, chega-se à Fazenda Saboeiro, que foi propriedade de Ezequiel de Araújo Fernandes, Comandante Superior da Guarda Nacional do Caicó e primeiro Juiz de Paz, descendente do português Antônio Fernandes Pimenta. De sua casa grande, avista-se a Serra da Formiga, dormitando eternamente o sono da natureza pacata e calma.
Nascido em 10 de abril de 1843, na Fazenda Limoeiro, município de Caicó, Ezequiel era filho de Cosme Damião Fernandes e Isabel Maria de Araújo. Neto paterno de André José Fernandes e Luíza Maria da Encarnação, materno de Filipe de Araújo Pereira e Josefa Maria do Espírito Santo. Em primeiras núpcias, casou com Josefina Ernestina de Araújo Fernandes, filha de Manuel Alexandre de Araújo Guerra e Bartoleza Bezerra da Nóbrega, neta paterna de Alexandre de Araújo Pereira e Joana Manuela da Anunciação, materna de José Ferreira da Nóbrega e Francisca Bezerra do Sacramento. Desta união sobreviveram os filhos: Ezequiel de Araújo Fernandes Filho, Prof. Manoel Fernandes de Araújo (maestro da Banda de Música Caicoense), Major Aproniano Flósculo de Araújo Fernandes e Isabel Josefina de Araújo Fernandes.
Com a morte de sua primeira esposa, o Comandante Ezequiel casou com Teresa Maria Bezerra de Araújo, natural de Acari, nascida na fazenda Ingá, filha de Cipriano Bezerra Galvão e Isabel Cândida de Jesus. Neta paterna de Cipriano Lopes Galvão (3º.) e Teresa Maria José, materna de Antônio Pereira de Araújo e Maria José de Araújo. Com Mãe Tetê, como Teresa era carinhosamente chamada pelos netos, teve os filhos: Maria Bezerra de Araújo Fernandes, Teresa Levita Fernandes (Santa), Salatiel de Araújo Fernandes, Godofredo Fernandes, Silvino de Araújo Fernandes, Ezequias de Araújo Fernandes, Josias de Araújo Fernandes e Abdias de Araújo Fernandes, sendo que estes três últimos faleceram ainda solteiros.


Teresa Bezerra Fernandes e Comandante Ezequiel de Araújo Fernandes

O Comandante Ezequiel de Araújo Fernandes faleceu em Caicó, vítima de uma congestão, em 24 de abril de 1904. Sua morte foi noticiada pelo Jornal “A República”, com sede em Natal, na seção dos municípios, edição de 17 de junho de 1904:
Este municipio ainda se acha dolorosamente impressionado com a morte inesperada do prestimoso e honrado cidadão, coronel Ezequiel de Araújo Fernandes, um dos homens mais respeitáveis desta localidade, que aqui sempre exerceu a sua benefica influencia na vida pública, cercado da sympathia e da estima dos seus concidadãos, tendo exercido com honradez, dedicação e critério, quasi todos os cargos de eleição popular e nomeação do governo.
Vamos dar alguns traços da sua biografia.
O coronel Ezequiel de Araújo Fernandes, pertencente a uma das mais distintas familias desta localidade, nasceu a 10 de abril de 1843 e era casado em segundas nupcias com a virtuosa matrona, d. Thereza Bezerra de Araújo Fernandes.
Deixou dez filhos vivos, sendo seis do segundo casamento e quatro do primeiro.
O seu enterro e as suas exequias foram extraordinariamente concorridas, por amigos e admiradores deste e doutros municipios, que quizeram assim prestar mais esta homenagem ao cidadão que tantos serviços havia prestado á causa pública.
Damos pezames a sua inconsolável viuva e mais pessoas da sua família, especialmente aos seus dignos filhos e irmãos, professor Manoel Fernandes, major Aproniano Fernandes, dr. Manuel José Fernandes e padre Francisco Rafael Fernandes.
A parte que segue, publicada naquela seção, não faz parte da biografia do Comandante, mas é interessante para o sertanejo conhecer:
Continua cada vez mais triste e desolador o estado de secca que afflige este municipio. Temos visto preparações e signaes de chuva para outros pontos, porem aqui só nos chega, o sol, a fome e a miseria, que ameaça tudo consumir.
Com sua morte, Mãe Tetê, que tinha uma casa, ao lado da Matriz de Sant’Ana de Caicó, permaneceu na condução dos trabalhos rurais, na companhia de seu filho Godofredo Fernandes, que, pouco a pouco, foi assumindo os negócios do Saboeiro.


Matriz de Sant’Ana de Caicó, em 1924, quando da cheia do Rio Seridó

2. O violão, a clarineta, a voz, o encanto...

Godofredo Fernandes nasceu em 30 de dezembro de 1888. Sua mãe pensou em casá-lo na família do Coronel Joel Damasceno, com uma sua parenta, mas seu coração pertencia à senhorinha Maria Soledade de Araújo, filha dos comerciantes Joaquim Vicente Dias de Araújo e Maria Armelina Dantas, conhecida por todos como Mariazinha. Joaquim Vicente nasceu na fazenda Riachão, município de Jardim do Seridó, em 13 de dezembro de 1857. Aos 13 de fevereiro de 1893, na fazenda Oiticicas, casou com Maria Armelina Dantas, praticamente vinte anos mais moça que ele, pois que nascida em 24 de outubro de 1877.


Mariazinha, Zezinho, Quininha, Enedina, Lúcio, Assis, Bembém, Joel, Marica, Ananias, Rita, Ludgero, Justino, Zefinha



Uma oiticica, que existia às margens do Rio Seridó, em 2002

Oiticicas era a fazenda de José Calazâncio Dantas, o Coronel Bembém, nascido em 27 de agosto de 1840, na fazenda Serrinha, território da Freguesia de Brejo de Areia. Descendente de Caetano Dantas Correa, filho de Pedro Celestino Dantas e Rita Miquelina de Sant’Ana. Casado, em 1862, com Maria Jovina de Sant’Ana, filha de Galdino José Batista dos Santos Brito e Maria Ana Jovina de Sant’Ana, apenas dois filhos seus chegaram à idade adulta: Maria Jovina Dantas (Marica) e Ludgero Felinto Dantas. Tendo enviuvado, casou em 1875 com Enedina Maria de Sant’Ana, filha de Guilherme Soares Pereira e Maria José da Conceição. Desta segunda união, dez filhos: Josefa Enedina Dantas (Zefinha), Maria Armelina Dantas (Mariazinha), Justino Pereira Dantas, José Calazâncio Dantas Filho (Zezinho), Lúcio Dantas Pereira, Joaquina Dantas Gurgel (Mãe Quininha), Ananias José Dantas, Rita Enedina Dantas (Ritinha), Francisco de Assis Dantas e Joel Adonias Dantas.


Família de Joaquim Vicente e Mariazinha, em 1923
Neuza é a terceira criança (e/d), sentada, com um laço nos cabelos

Joaquim Vicente e Mariazinha tiveram cinco filhos: Maria Soledade de Araújo, Joaquim Vicente Dias de Araújo Filho, Ana Almira de Araújo (Santinha), José Vicente Dias de Araújo e Manoel Vicente Dias de Araújo (Nezinho Vicente). Foi na fazenda Oiticicas que Maria Soledade foi dada à luz, aos 23 de janeiro de 1894. Moça prendada e educada com a seriedade que impunha sua época, tocava violão e, com sua linda voz, cantando modinhas, encantou o coração do jovem e elegante Godofredo Fernandes, que sabia tocar clarineta. No convite de seu casamento, lê-se: Godofredo Fernandes tem a honra de convidar a V. Sa. e a exma. familia para assistirem ao acto de seu casamento que se realizará nesta cidade, ás 5 horas da tarde do dia 31 do mez proximo futuro, com D. Maria Solidade de Araújo, filha de Joaquim Vicente Dias de Araújo. Convicto do comparecimento de V. Sa. desde ja hypotheca os seus agradecimentos. Caicó, 21 de setembro de 1910.


Maria Soledade de Araújo e Godofredo Fernandes

Sendo filha de comerciantes, sempre residiu na cidade, mas não fez nenhuma objeção para residir na fazenda Saboeiro. Católica praticante, assumindo com amor e boa vontade sua nova vida, ensinava o catecismo aos filhos dos demais moradores do Saboeiro e orientava as esposas que ali moravam em todos os seus problemas, atendendo-as em casos de doença com sua farmácia caseira de chás e homeopatias. Quando se casaram, Godofredo Fernandes e sua esposa moraram na Casa Grande, mas, em seguida, com o casamento de seu irmão Silvino Fernandes, Godofredo decidiu assumir sua própria casa, que alguns chamavam de chalé, ao lado do serrote, do outro lado do açude do Saboeiro. Pelos idos de 1933, depois da morte de Silvino Fernandes, que fazia companhia à Mãe Tetê, Godofredo e Soledade vêm para a Casa Grande e seu primeiro filho, Severino Fernandes (Bibi), vai morar com sua esposa Corina Araújo na casa até há pouco habitada por seus pais.


Maria Soledade, Gizélia, Godofredo e Severino

3. As primeiras colheitas do amor...

Severino Fernandes (Bibi) nasceu em 08 de novembro de 1912 e foi o primeiro dos treze filhos de Godofredo Fernandes e Soledade, seguido por Maria Gizélia Fernandes (Inha), nascida em 13 de março de 1917; Francisco Fernandes (Chico Godofredo), nascido em 02 de junho de 1918; Maria Áurea Fernandes, nascida em 22 de janeiro de 1920; Maria Neuza Fernandes (chamada de Dudu por seus sobrinhos, filhos de Bibi), nascida em 25 de abril de 1921; Maria Marieta Fernandes, nascida em 05 de setembro de 1922; Maria Hildete Fernandes (Teté), nascida em 06 de outubro de 1924. De fato, o segundo filho do casal foi um menino que recebeu o nome de José, falecido ainda criança.
Enfrentando as dificuldades próprias da vida agropecuária, Godofredo Fernandes e Maria Soledade viam o crescimento de sua família, com a graça de Deus e a proteção da gloriosa Sant’Ana de Caicó, excelsa padroeira de todo o sertão do Seridó. Com apenas 31 anos de idade, já tinha sido mãe de 8 filhos, quando, em 18 de março de 1925, é acometida por uma dor repentina que começa a roubar-lhe o movimento dos membros inferiores. Godofredo e Soledade foram a Caicó para ser testemunhas de um casamento quando a enfermidade atacou-a. Ela estava em casa de seus pais Joaquim Vicente e Mariazinha quando, ao jantar, tendo que se levantar para apanhar um bule, deu um grito e pediu que a segurassem. O médico mais experiente, àquela época, em Caicó, era o Dr. José da Silva Pires Ferreira, que já não saía mais de casa para fazer atendimentos clínicos. Alguém foi até ele e explicou o que ocorrera. Ele receitou uma espécie de emplastro. Quando começaram a aplicar o unguento, Soledade já não parecia ter sensibilidade na perna. Um outro portador voltou ao Dr. Pires Ferreira para lhe dizer o que ocorria e o diagnóstico dado por ele foi dor ciática. O médico que ficou acompanhando Soledade de perto foi o Dr. Aderbal Figueiredo, apoiado pela experiência do velho mestre na arte médica.


Maria Soledade ainda solteira

Soledade foi obrigada a passar um tempo em casa dos pais. Enquanto ela se recuperava, sua irmã Santinha tomou a criança Hildete (Teté) para cuidar até que sua mãe estivesse recuperada. Dadá, como seus irmãos e algumas pessoas chamavam Soledade, já começava a andar outra vez, às vezes apoiando-se nas paredes, às vezes nos ombros dos filhos mais velhos, quando sofreu a segunda paralisia que, definitivamente, iria deixá-la em cadeira de rodas. A segunda crise, comprometendo a perna ainda saudável, foi no dia em que sua irmã Santinha e seu esposo Eloy Cesino de Medeiros, recém-casados, foram visitá-la. Fotografia há que a retrata com a perna esquerda completamente atrofiada. Interessante é que a menina Hildete, tendo ficado tão apegada à tia como se sua mãe fosse, ficou em sua companhia, mesmo quando esta se casou e foi residir na fazenda Umary. Foi por isto que, ao falecer Santinha, a menina Teté, muito ainda criança, ficou em companhia de seus avós Joaquim Vicente e Mariazinha, que chamava de papai e mamãe.


Maria Soledade, em cadeira de rodas

4. Entre espinhos também há rosas...

Não era, entretanto, uma cadeira de rodas que tiraria de Soledade Fernandes a alegria de viver e a coragem de trabalhar. À cabeceira da mesa, costurava e acompanhava em tudo a vida doméstica, seja quando estava na cidade, na Rua Padre Sebastião, n. 76, seja quando estava no Saboeiro, ora no chalé, ora na Casa Grande. A casa da cidade, que passava uma boa parte do ano fechada, foi adquirida por Godofredo Fernandes de familiares de Eloy Cesino de Medeiros. Soledade ajudava seu querido esposo em tudo, até na fabricação dos queijos. Soube dar tudo de si pela felicidade de seu matrimônio e, não obstante as dificuldades em sua mobilidade, viveu heroicamente. Sentiu de perto a dor da morte quando, estando acamada, via seus filhos à mercê de sua enfermidade, sem que ela nada pudesse fazer. Pediu a Deus que lhe desse força e saúde para criar sua família, ainda que ficasse paralítica, e assim foi atendida.
Na cidade, mesmo sua casa sendo tão perto da Matriz de Sant’Ana de Caicó, não lhe era fácil ir à Missa com frequência. A facilidade da cadeira de rodas era impedida pela altura das calçadas do Caicó daquele tempo. Ao término da Missa dominical, muitas pessoas iam visitá-la, bem como noutras oportunidades. Era mulher muito benquista por todos e de muitas amizades.
O amor de Godofredo e Soledade foi sempre de tal modo transbordante que ainda cinco filhos nasceram depois de toda esta enfermidade: José de Anchiêta Fernandes, em 29 de fevereiro de 1928; Ezequiel Fernandes (Caboclo), em 27 de março de 1930; Joaquim Godofredo Fernandes (Quinzinho), em 03 de julho de 1932; Maria Fernandes (Basinha), em 18 de dezembro de 1934; Maria Lúcia Fernandes, em 22 de novembro de 1936. A família aumentava também porque não faltavam agregados. Desde o nascimento de José de Anchiêta, Santina ficou com Godofredo e Soledade, em cujo lar trabalhava.
Em 31 de outubro de 1935, quando Godofredo e Soledade celebraram suas Bodas de Prata Matrimoniais, já eram avós de Maria Lene, filha de Severino Fernandes e Corina e, ainda em vida, Soledade conheceria Rubens Ezequiel, filho de Gizélia e Ezequiel Elpídio de Medeiros.


Bodas de Prata
Gizélia, Ezequiel, Caboclo, Neuza, Soledade e Basinha, Áurea, Godofredo, Chico, Quinzinho, Hildete, Marieta, Corina e Maria Lene, Severino e José de Anchiêta

Soledade continuava sua missão junto a filhos e agregados, educando-os para a vida e transmitindo-lhes a fé. A fé que recebera de seus pais Joaquim Vicente e Mariazinha, celebrada com seu esposo Godofredo Fernandes, vivida com familiares e os que lhe estavam próximos, fez de seu lar uma igreja doméstica. Sua fé era cheia de confiança nas mãos de Deus, a quem se entregara totalmente em seus sofrimentos. O amparo de Sant’Ana de Caicó fez-se sensível em tantas circunstâncias de sua vida de aceitação e superação. Sua fé a fez serena e forte para conviver com o que não era possível ser modificado e suas lágrimas tornaram ainda mais puro e cristalino o entendimento da realidade na qual estava inserida. Na Casa Grande do Saboeiro, havia um altar no primeiro quarto, à esquerda, onde estava o oratório da matriarca Tetê, com as muitas imagens que tinha. Era o chamado quarto da entronização, onde, por costume, ninguém dormia. Semelhante a uma capela, era ali onde as práticas religiosas aconteciam: em janeiro, o dia de São Sebastião; antes da Páscoa, toda a quaresma e suas penitências; em março, o dia de São José; em maio, o terço era recitado diariamente em família com todos os agregados e o altar recebia uma ornamentação toda especial; em junho, o dia de Santo Antônio; em dezembro, o dia de Santa Luzia; nos demais meses do ano, as demais devoções. É uma pena ter se perdido o livro de orações do mês de maio usado por Maria Soledade. Deste livro ficou somente um refrão: “Adeus, companheiros / do mês mariano. / O céu nos proteja! / Até para o ano”. Godofredo Fernandes era tesoureiro da Irmandade das Almas do Seridó e anualmente era um dos responsáveis pela celebração da grande Festa das Almas do Seridó.
Foi nesse clima de fraternidade, fé e paz que nasceu e viveu a família de Godofredo Fernandes e Soledade Araújo. A disciplina era conservada apenas pelo olhar para que os filhos fossem obedientes e não havia violência alguma. Quando vieram para a Casa Grande do Saboeiro, a rotina era a mesma, mas, na companhia de Mãe Tetê, os netos entravam no divertimento da avó: o jogo de sueca, aos domingos, à tarde. Quando as cartas não lhe ajudavam, ela encontrava uma desculpa para acabar a partida e dar as cartas novamente. Este era o divertimento do Saboeiro. Dança não havia, pois Godofredo Fernandes não permitia que suas filhas dançassem.



Neuza e alguns de seus irmãos
Zé de Anchiêta, Mirinha, Socorro, Basinha, Áurea, Ir. Salésia e Marieta



Neuza e alguns de seus sobrinhos
Rubens Ezequiel, Gleide, Nívia, Soledade (Dadá) e Francisca Maria
Catedral de Sant'Ana de Caicó, 25 de julho de 2006


5. Forte até à morte...

Em princípios de 1938, Maria Soledade adoece, no Saboeiro, com uma paralisia intestinal. O Normacol, remédio que constantemente tomava, não parecia dar algum efeito. Depois de esgotados todos os recursos da medicina caseira, vendo o estado de sua esposa agravar-se sempre mais, Godofredo pede que sua sogra Mariazinha vá o quanto antes ao Saboeiro acudir a filha e leve Dr. José Medeiros para receitá-la. Os procedimentos cabíveis para tentar resolver a paralisia intestinal e dar-lhe o alívio necessário foram feitos no próprio Saboeiro, mas nada resolveu. O conselho de Dr. José Medeiros foi levá-la para Caicó e, no mesmo automóvel que o conduzia, ela saiu do Saboeiro, na companhia de seu esposo Godofredo Fernandes e Áurea, sua filha. À saída, ela pediu que lhe trouxessem Lucinha, a filha menor, e deu-lhe um beijo.
Diariamente, havia um portador que levava as notícias que Áurea mandava para as irmãs Neuza e Marieta, que haviam ficado no Saboeiro com Mãe Tetê, Santina e todos os filhos pequenos, especialmente Basinha, com apenas três anos, e Lúcia, com pouco mais de um ano. Houve uma grande alegria no dia que Áurea escreveu que sua mãe estava mais aliviada das dores. Foi talvez a melhora da morte?! Como Godofredo havia dito que, se Soledade não melhorasse, ele mandaria buscar toda a família, no sábado, quando avistaram, vinha um automóvel, dirigido por Boanerges Diniz, e logo entenderam que era Soledade que estava bastante piorada. Severino (Bibi) já tinha trazido seus irmãos José de Anchiêta, Caboclo e Quinzinho para visitar a mãe. Louvável foi a atitude de Mãe Tetê que, ao ver sua nora naquela situação, disse que estaria disposta a dar a vida para que Soledade vivesse.
Foram nove dias de sofrimento. Soledade esteve, em todo tempo, plenamente consciente. Ao seu lado, o esposo, todos os seus filhos e seus pais Joaquim Vicente e Mariazinha, em cuja residência ela vivia seus últimos instantes da breve existência de quase 44 anos de idade. Tão consciente estava que preocupou-se até em perguntar se havia querosene, pois, num desses dias, Francisco seu filho chegaria do Saboeiro e a iluminação pública já poderia estar apagada. Sua mãe Mariazinha a acompanhava com orações e, com toda a coragem, Soledade vivia seus últimos instantes, ávida para que chegasse a hora de exalar o último suspiro, pois não aguentava tantas dores. Quando chegou sua hora, tarde da noite, quando já era 16 de janeiro de 1938, ela havia abençoado cada um dos seus filhos. Lembrara-se de que, quando ficou paralítica, havia pedido a Deus que lhe desse saúde e força para criar seus filhos pequenos; agora via os filhos crescidos com condições de cuidar dos mais jovens. Recomendou, entretanto, que a família não fosse dividida, mas que permanecessem na companhia do pai. Isto porque Severino e Gizélia já eram casados e podiam ter o desejo de ficar com os irmãos menores para criá-los.
Em nenhum instante, em nenhum instante sequer, ouviu-se de Soledade um lamento, uma reclamação, tampouco se viu um gesto de revolta ou inconformação. Pelo contrário, morria agradecida a Deus por ter sido possível levar sua família àquela idade. Maria, irmã de Miguel Elpídio, tendo-a visitado em sua agonia, parabenizara-a pela compostura de suas filhas. E, no leito de morte, uma vez que consciente partia, recomendou ainda que suas filhas andassem com modéstia.
Ela era prima legítima do então vigário da Freguezia de Sant’Ana de Caicó, Padre Walfredo Dantas Gurgel, e dele recebeu o sacramento da Unção dos Enfermos. Foi, entretanto, o Padre Severino Bezerra, à época coadjutor, que celebrou seus funerais, pois o vigário tinha viajado a Patos. Disse Padre Walfredo Gurgel, depois do ocorrido, que se soubesse que a situação estava tão crítica nem teria viajado.
Sua mãe Mariazinha, que havia sido não somente fundadora, mas também primeira presidente do Apostolado da Oração da Freguesia do Caicó, tão habituada que era ao trabalho de acompanhar os enfermos e agonizantes em sua última hora, naquele momento estava aos prantos. A mulher que, com sua fé, consolava os tristes precisou também ser consolada da dor que a nenhuma outra se iguala: ver um filho partir antes de si. Soledade foi sepultada na sepultura da Família Dantas das Oiticicas e ali seu corpo aguarda a ressurreição dos mortos. Tendo passado pelo mistério da morte e mergulhado definitivamente na plenitude de Deus, na comunhão dos santos assiste os seus e todos os que sofrem.


Joaquim Vicente Dias de Araújo

6. Um pouco mais sobre Quinv’cente...

Seu pai, Joaquim Vicente Dias de Araújo, faleceu avistando o centenário, quando as comemorações já estavam organizadas e os convites distribuídos. A gripe que o levaria à morte, conforme ele mesmo disse, ele pegou na Festa das Almas daquele ano, portanto, em 13 de novembro de 1957, de uma mulher que, sentada ao seu lado, não parava de espirrar. Era desejo da família que, naquele dia 13 de dezembro de 1957, fossem celebradas cem Missas em ação de graças, em diversas localidades do Seridó e do Rio Grande do Norte. Foi também ele sepultado no túmulo de José Calazâncio Dantas, o Coronel Bembém das Oiticicas, no Cemitério São Vicente de Paulo. A edição n. 195 do jornal caicoense “A Folha”, com data de 23 de novembro de 1957, estampou, na primeira página, a seguinte nota:
Com grande consternação por todos os habitantes desta cidade, ecoou na manhã do dia 21 do corrente a notícia do falecimento do venerando Joaquim Vicente Dias de Araújo. Faltavam, apenas, vinte e dois dias para celebrar o centenário do seu nascimento. Não quis Deus, porém, que tivéssemos essa satisfação e tivemos de acompanhar os seus restos mortais até à última morada na tarde daquele dia.
Era casado há 65 anos com D. Maria Armelina Dantas, que lhe sobrevive. Deixou, apenas, dois filhos vivos: José Vicente de Araújo, do alto comércio de Campina Grande, e Manoel Vicente de Araújo, comerciante e vereador nesta cidade.
Seu enterramento verificou-se às 16 horas do dia 21, tendo sido feita a encomendação na Catedral. Seu entêrro foi uma verdadeira procissão. Formaram os colégios e as associações e irmandades religiosas. Todo o clero diocesano compareceu ao seu sepultamento, pois pertencia às Irmandades locais e era varão de reconhecido espírito religioso.
À sua veneranda viúva, aos filhos, netos, bisnetos e parentes enviamos a expressão mais viva de nossas condolências.


Soledade, Mariazinha, Santinha, Joaquim Vicente e Bembém

A edição n. 196 d’A Folha, com data de 30 de novembro de 1957, trazia duas notas referentes a Joaquim Vicente. A primeira nota é um convite para a MISSA E VISITA. Maria Armelina Dantas, filhos, genros, noras, netos e bisnetos convidam o povo desta cidade para assistir à Missa Exequial e á Visita que mandam celebrar no dia 13 de dezembro, na Catedral de Sant’Ana, às 6h30min, em sufrágio da alma de seu esposo, pai, sogro, avô e bisavô JOAQUIM VICENTE DIAS DE ARAÚJO. Antecipam seu agradecimento aos que comparecerem. Caicó – novembro – 1957. A segunda nota é um AGRADECIMENTO. A família de JOAQUIM VICENTE DIAS DE ARAÚJO, ainda compungida pelo seu desaparecimento, externa a todos os que se solidarizaram com sua dor, por meio de mensagens, visitas etc. Agradece, também, aos que compareceram ao entêrro, ao clero, às Irmandades, aos colégios. Externa, igualmente, seu agradecimento ao Dr. Isauro Maia e aos demais médicos que tudo fizeram para salvar sua preciosa existência.
Com data de 7 de dezembro de 1957, o jornal A Folha (n. 197), na segunda página, trazia um convite para a MISSA E VISITA. Maria Armelina Dantas, filhos, genros, noras, netos e bisnetos convidam o povo desta cidade para assistir à Missa Exequial e á visita que mandam celebrar no dia 11 (sic!) de dezembro, na Catedral de Sant’Ana, às 6h30m, em sufrágio da alma de seu espôso, pai, sogro, avô, bisavô JOAQUIM VICENTE DIAS DE ARAÚJO. Antecipam seu agradecimento aos que comparecerem. Caicó – novembro – 1957.
A edição n. 198 do mesmo jornal A Folha, com data de 14 de dezembro de 1957, na primeira página, estampou como matéria principal:

Um centenário
Ontem foi celebrado um centenário. Não com o tom festivo que se esperava. Ao contrário. No centro da Catedral erguia-se o catafalco, a música tinha inflexões fúnebres, os paramentos pretos denotavam as exéquias pelo repouso eterno do ente querido que desapareceu.
Em vez do “Te Deum” diante do altar iluminado, recoberto de flores, o “Requiescat in Pace” ao pé da essa cerrada de coroas mortuárias.
Sim. Tudo estava sendo preparado para comemorar os cem anos de vida do venerando e acatado Joaquim Vicente Dias de Araújo. Faltavam apenas vinte e dois dias para a gloriosa efeméride. Mas o velho carvalho, que havia resistido bravamente à ação dos tempos, curvou-se à vontade divina e caiu para sempre no sono da eternidade.
Assim foi ontem celebrada a Missa de “Requiem” pela sua alma.
Nascido em Jardim do Seridó, no sítio Riachão, a 13 de dezembro de 1857, radicou-se em Caicó, ainda moço, casando-se há 65 anos com D. Maria Armelina Dantas. Aqui constituiu família, exercendo durante tôda a sua vida atividades no comércio, sendo, ao morrer, o mais antigo comerciante de todo o Rio Grande do Norte.
Homem de acentuadas convicções religiosas, pertenceu às Associações pias, inclusive ao Apostolado da Oração, do qual foi tesoureiro durante 36 anos.
A vida longa, muitas vêzes, nada significa em si, mas quando é dignificada pelo exemplo dado à posteridade.
Joaquim Vicente, porém, soube viver os largos anos que Deus lhe concedeu. Foi um justo, no verdadeiro sentido da palavra.
Viveu para sua família, trabalhou até as pálpebras cansadas se cerrassem para o sono da morte; foi honesto e bom; temente a Deus e cumpridor dos seus deveres.
Ao evocar-lhe o nome no centenário de seu nascimento, sentimos ainda a sua presença, pois uma vida tão bem vivida deixa rastros luminosos que não se apagam tão depressa como as estrêlas cadentes.


Maria Armelina Dantas

7. Um terço, uma fita vermelha...

Maria Armelina Dantas (Mariazinha) tinha 89 anos incompletos quando faleceu. No jornal A Folha, ainda em circulação naquele ano de 1966, na edição n. 281, de 15 de outubro, o Pe. Itan Pereira da Silva, redator chefe, em sua coluna semanal escreveu:

DONA MARIAZINHA
“A mulher forte, quem a encontrará? É como um tesouro que vem de longe. As suas ações a elogiem, às portas da cidade” (palavras da Sagrada Escritura)
O cronista é aquêle que procura nos acontecimentos cotidianos os segredos da vida. O cronista é aquêle que descobre nos mínimos e por vêzes efêmeros detalhes da rotina as dimensões do que é eterno. O cronista é aquêle que interpreta a angústia dos que sofrem e faz sua a frustração dos que são injustiçados. O cronista é aquêle que sente na linguagem vulgar de cada dia o mistério da verdade. O cronista é aquêle que arranca do sensacionalismo da moda e da publicidade a própria fugacidade do que passa. O cronista é aquêle que corre o risco de dizer coisas que agradam e sobretudo o que desagrada. O cronista por isso é aquêle que ouve os elogios do auditório do mundo ou recebe as pedradas da platéia da vida. O cronista é ainda aquêle que arranca das pessoas que fazem a trama da existência na terra a mensagem que elas têm para os tempos.
As pessoas, eis o mistério nas mãos do cronista, do qual muitas vêzes ele não sabe o que dizer porque, como afirmava o Pequeno Príncipe de Saint-Exupéry, “quando o mistério é grande demais a gente não ousa se aproximar...”. Aí está! Dona Mariazinha! Há certas pessoas que Deus deixou na terra como sinais... Como sentinelas da eternidade... Como guardas do tempo... Como vigias da luz do mundo... Dona Mariazinha... O que dizer... É muito pouco dizer dela que desabou mais um pedaço do Caicó antigo... É insignificante dizer somente dela que o Caicó do passado aos poucos se despede do cenário da vida... Dona Mariazinha!
Pois mais do que tudo isso, os 89 anos de vida que Caicó foi deixar na sepultura – foi a figura desta atalaia de Deus nas encruzilhadas de uma geração – a mulher de Fé, a zeladora do Apostolado da Oração, que no seu ataúde levou nas mãos o têrço, a oração dêsses Anjos terrenos que sustentam o mundo... Dona Mariazinha, a mulher forte de que fala a Sagrada Escritura, que no pranto da sua família deixou a saudade e o modêlo da esposa, da mãe, da avó, da bisavó, mas sobretudo deixou nos caminhos do mundo o rastro da eternidade... “Ela foi como o tesouro que vem de longe”, no dizer das sagradas letras...


Mariazinha e Joaquim Vicente

Mariazinha e Joaquim Vicente, de temperamentos tão opostos, viveram tantos anos de união matrimonial unidos na fé. Bastante religiosos, iam diariamente à Santa Missa, participando juntos do Apostolado da Oração. Ela, muito devota de Nossa Senhora Auxiliadora e São João Bosco, fundador dos Padres Salesianos, trouxe para a Catedral, às suas expensas, a imagem de Dom Bosco. Tinha o grande desejo de ter um filho padre, como sua irmã Quininha tinha o filho Walfredo. Ela sabe, no mistério da comunhão dos santos, na visão beatífica de Deus em que ela agora vive, que um descendente seu, neto de sua neta Neuza, alguém que nasceu de suas veias e herdou sua esperança na vida eterna, foi ungido presbítero da Igreja Católica, que ela tanto amou até o fim, incardinado na Diocese de Caicó que ela viu nascer, cujo patrimônio foi formado também com a sua e a doação de seu esposo.
Maria Armelina Dantas foi sepultada no túmulo da Família Dantas das Oiticicas, junto ao seu pai Bembém, que tanto amava e de quem tanto cuidou quando este, já em terceiras núpcias, decidiu sair de sua fazenda para aguardar o soar da eternidade, anunciando que havia chegado a hora de elevar o espírito e sentir a grandeza da existência bombardeando os limites da matéria.

8. Uma nova geração na família do Saboeiro...

Depois da morte de Soledade, filha de Joaquim Vicente e Maria Armelina, todos os filhos voltaram para o Saboeiro. Era preciso enfrentar a vida, entender a presença que se esconde sob as aparências da ausência e caminhar. Viúvo aos 49 anos e com uma prole considerável a terminar de criar, em 1940, Godofredo Fernandes celebrou novas núpcias com uma prima legítima de Soledade, Emília Araújo, filha de Deoclécio de Araújo Melo e Raimunda Maria de Jesus (irmã de Joaquim Vicente). Foi com ela residir no Saboeiro e, nesta nova fase de sua vida, nasceram os filhos: Raimunda Fernandes, em 26 de março de 1941, falecida em tenra idade; Godofredo Fernandes Filho, em 19 de junho de 1942, falecido com apenas 19 anos, em 31 de maio de 1962; Maria do Socorro Fernandes, em 23 de junho de 1943; Deoclécio Fernandes, em 05 de abril de 1945, e Emília Fernandes (Mirinha), em 07 de maio de 1947.


Neuza, com Lúcia ao colo, e Basinha, de luto

Emília não chegou com ares demolidores, mas foi continuadora da maternidade que precocemente foi subtraída da residência de seu esposo. A esta altura, Neuza já havia casado, em 25 de abril de 1939, e Áurea, em 16 de julho de 1941. Entretanto, até que seu pai se consorciasse novamente, foi Áurea que assumiu a direção dos trabalhos domésticos. Foi Marieta a filha que mais esteve na companhia de Godofredo Fernandes em seu segundo matrimônio e que mais ajudou Emília a assumir a família que seu matrimônio encontrou ao ser celebrado. Ao casar, Emília constituiu uma família que já estava constituída. Não se têm lembranças de nada que desdoure sua personalidade de mãe, esposa e amiga.
Com o passar do tempo, Basinha vem para Caicó a fim de estudar e fica em casa de Áurea Fernandes e Otoni Nóbrega. Também José de Anchiêta, Caboclo e Quinzinho tiveram que sair do Saboeiro para estudar e, assim como seus irmãos, filhos de Soledade, também estudaram na casa dos avós Joaquim Vicente e Mariazinha, onde a disciplina de sua avó materna era um pouco diferente do regime vivido na tranquilidade do Saboeiro, junto a Godofredo Fernandes. Emília faleceu em 09 de junho de 1955 e foi Marieta quem assumiu como mãe seus irmãos mais moços: Lúcia e todos os filhos de Emília.
Já tendo fixado definitiva residência na cidade de Caicó, Godofredo Fernandes casou ainda terceira vez, em 1959, com Francisca Elza de Medeiros (Cocó), com quem não houve filhos. Cocó era viúva de Lúcio Dantas, filho do Coronel Bembém, de quem fora segunda esposa. Godofredo veio a óbito em 25 de janeiro de 1972, aos 83 anos de idade, sendo sepultado no Cemitério São Vicente de Paulo, no túmulo de seus pais, Comandante Ezequiel de Araújo Fernandes e Mãe Tetê, falecida em 23 de junho de 1940.

9. NEUSA
... tudo como a valsa diz ...
Composição: Antonio Caldas e Celso Figueiredo
Gravação: Orlando Silva (1938)

Há na luz clara e tranquila do luar
Um poema em louvor ao teu olhar
Porque a própria natureza
Se eleva em tua graça
E canta a tua beleza.
És como a flor mimosa da campina
Que a sutil aurora beija e ilumina
Neusa, também em teu louvor
Eu canto esta valsa de amor
Há no teu ser a unção deste luar
A tua boca a sorrir
Mostra pérolas roubadas ao mar
Na minha vida
Sejas tu o meu fanal
Para a glória deste meu viver
Meu amor
Hás de ser a alegria querida.


Neuza Fernandes, em 1938

A sexta filha de Godofredo Fernandes e Maria Soledade de Araújo nasceu numa segunda-feira, aos 25 de abril de 1921, na casa de seus pais, na fazenda Saboeiro, município de Caicó, estado do Rio Grande do Norte. Quando ela nasceu, o berço de ferro, ainda hoje existente, estava desarmado, pois aquele parto estava sendo esperado em maio. Quem a apanhou foi uma parteira curiosa chamada Preta, que morava pelos Caboclos, propriedade rural vizinha ao Saboeiro, e era Antônia, da família que tinha o apelido de Mandu, quem auxiliava sua mãe nos trabalhos domésticos.
Foi batizada na Matriz de Sant’Ana de Caicó, em 04 de junho do mesmo ano e teve por padrinhos o Pe. Celso Cicco e sua avó materna, Mãe Tetê. Sua madrinha de Crisma era Julieta de Medeiros Dantas, esposa de Joel Adonias Dantas, seu tio.

CERTIDÃO DO BATISMO

Aos quatro de junho de mil novecentos vinte e um, nesta Matriz, baptisei solemnemente Maria, nascida a vinte e cinco de Abril deste mesmo ano, filha legitima de Godofredo Fernandes e Maria Soledade de Araújo, sendo padrinhos Padre Celso Cicco e Theresa Beserra Fernandes de que para constar mandei fazer este assento que assigno.
(Ass.) Vigário Pe. Celso Cicco
Obs. à margem: Casou-se em Caicó, aos 25 de Abril de 1939, com Francisco Dantas de Melo. Test. Ezequiel Elpídio e João Dantas de Melo. (Ass.) Pe. W.Gurgel.)


1ª. Eucaristia – Marieta e Neuza, de joelhos

No dia 13 de novembro de 1930, na Capela do Colégio Santa Teresinha, Neuza e Marieta receberam a 1ª. comunhão. A princípio, sua alfabetização se deu no próprio Saboeiro, em escolas isoladas. Como em muitas outras casas, era chamada uma professora para desasnar as crianças daquela fazenda e assim fez Godofredo Fernandes, convidando Lilite, filha de sua irmã Maria, e Teresa da Mota. Quando chegou no Colégio Santa Teresinha, em começos de 1933, já trazia a carta de ABC, sabia ler e, com uma caligrafia primorosa, já escrevia. Estudou no Colégio Santa Teresinha, educada pela Congregação das Filhas do Amor Divino, até 1937, ficando interna nos primeiros seis meses, com sua irmã Hildete (Teté), futuramente Irmã Maria Salésia Fernandes. Neuza nunca se esqueceu de Irmã Maria Assunta Vieira, freira que chegou a Caicó no mesmo ano em que ela ingressou no internato, bem como de Irmã Maria Francisca Medeiros, freira filha da fazenda Umary. Ainda como aluna do Colégio Santa Teresinha, não mais como interna, estudou na casa dos avós maternos Joaquim Vicente e Mariazinha e na casa de sua avó paterna Mãe Tetê. Embora gostando de ambas, a convivência com a avó Tetê era mais carinhosa.


Hildete, Neuza, Marieta, José de Anchiêta e Caboclo,
alunos do Colégio Santa Teresinha, em passeio ao sítio de Chiquinho de Hieronides

Conservada com muito apreço é uma correspondência que Soledade, sua mãe, lhe enviou:

Neuza,
Deus a abençoe.
Recebi seu bilhete quarta feira de cinza e fiquei muito satisfeita em saber que estavas bem no colégio e faço votos a S. Therezinha para que você e Hildete sejam bem comportadas e obedientes a todas as irmãs.
Você não mandou a camisola para botar mangas. Vai a toalha para você bordar; deve ser com linha grossa e em ponto atrás; peça à irmã que for encarregada dos trabalhos para dar as cores das linhas. Você compre e mande a conta para eu mandar pagar, talvez você aproveite alguma das que você tem. A toalha tem muito bordado, mas torna-se ligeiro por ser de ponto atrás; estou com vontade de fazer os guardanapos. Vai uma latinha de queijo para você. Quarta feira deu uma chuva aqui que o açude tomou água que encheu a cavaje e subiu um pouco na várzea.
Lembranças e saudades de todos.
Maria Soledade Fernandes
Saboeiro, 27 de fevereiro de 1937.

Era desejo de Soledade, sua mãe, que ela fosse estudar o curso Secundário, no Colégio Nossa Senhora das Vitórias, em Assu. Com a morte prematura de sua genitora, ela, que havia concluído os estudos no ano anterior, voltou para a companhia dos irmãos, no Saboeiro, onde ajudava suas irmãs Áurea e Marieta, na condução dos trabalhos domésticos e na educação dos irmãos mais jovens, ensinando José de Anchiêta e Caboclo a rezar. Ficou com os cuidados de Lúcia, a irmã caçula, que lhe chamava de mamãe.


A pequena Lúcia e Neuza, no Saboeiro, de luto, tendo ao colo um cordeirinho


10. O que Deus uniu, o homem não separe...


Francisco Dantas de Mello
(Chico Mello)




Neuza e seu esposo Francisco Dantas de Mello (Chico Melo) conheceram-se naturalmente. Ambos são descendentes de duas filhas do Coronel Bembém das Oiticicas: Neuza, neta materna de Maria Armelina Dantas (Mariazinha); Chico Mello, filho de Rita Enedina Dantas (Ritinha). Rita Enedina casou com José Gonçalves de Mello (Juca Mello), em 31 de maio de 1906. Seus filhos, como todos os jovens de sua época, andavam com assiduidade pela Rua da Matriz e frequentavam a residência da sua Tiazinha, como Mariazinha era chamada por todos os sobrinhos. Desse convívio nasceu por Neuza o apreço de Chico Mello, que criava ocasião para a toda hora lhe manifestar seu interesse. Até que, no patamar da Igreja Matriz de Sant’Ana de Caicó, por ocasião de umas missões pregadas pelo frade franciscano capuchinho Frei Damião de Bozzano, deram início ao compromisso que não seria mais interrompido com a possível ida de Neuza para o curso Secundário, em Assu.


Chico Mello e Neuza

Godofredo e Soledade nunca se opuseram ao compromisso entre eles, mas pensavam que um possível enlace entre famílias tão próximas, com o mesmo nível e, ao mesmo tempo, de hábitos tão diferentes, pudesse acarretar para Neuza, que sempre foi muito frágil e emotiva, alguma dificuldade. Seus pais pensavam que Neuza pudesse dar continuidade aos estudos, pois havia feito o curso no Colégio Santa Teresinha até o fim, e adiar um pouco mais o casamento, firmando-o depois.
Em 1938, quando Soledade veio a óbito, Chico Mello e Neuza já namoravam há algum tempo. Ainda naquele ano, Chico decidiu que iria casar. Esperou chegar o domingo, pois era quando Godofredo, seu padrinho de Crisma e futuro sogro, vinha à cidade. Não vinha aos sábados para fazer a feira, como a maioria dos fazendeiros vinha; vinha aos domingos para participar da Missa. Aos sábados, vinha Severino Fernandes. Num destes domingos, quando se dirigia à barbearia, Godofredo foi abordado por Pedro Diniz que lhe pedia Neuza em casamento, em nome de Chico Mello, seu amigo e parente muito próximo, uma vez que Chico é primo legítimo de Sinhazinha, mãe de Pedro Diniz. Registre-se que o porta-voz seria Ludgero Felinto Dantas, tio de Chico Mello, que, por alguma razão, não estava em Caicó ou não aceitou a incumbência. Quando Godofredo chega ao Saboeiro e comunica à sua mãe o que ocorreu, Mãe Tetê pergunta: “Você deu?”. Ao que respondeu: “Mamãe, eu posso negar uma filha minha a um filho de Compadre Juca?!”.





Iniciaram-se então os preparativos para o casamento. O enxoval foi todo preparado no Saboeiro com o decisivo e indispensável auxílio de Áurea e Marieta, irmãs de Neuza. Foi a renomada dona Maria Valle que confeccionou o vestido. Anos depois de seu casamento, Neuza presenteou esta peça a uma noiva que lhe havia solicitado em empréstimo. Véu, capela, perfumes e pertences pessoais foram comprados no Recife por sua avó Mariazinha e Áurea, sua irmã. Chico Mello pediu a elas que lhe comprassem um vidro de perfume francês.


Chico Mello

Responsável como era pelas filhas, Godofredo foi à fazenda Reforma, que dista três léguas de Caicó, na estrada que vai para São João do Sabugi. Ali foi tratar com seu compadre Juca Melo sobre o casamento de seus filhos, Neuza e Chico Melo. O enlace ficou marcado para o dia 25 de abril de 1939, dia em que Neuza completaria 18 anos. E assim ocorreu! Combinaram que o novo casal haveria de morar na Casa Grande da Reforma até que chegasse o inverno.


Neuza e Chico Mello, em 25 de abril de 1939

Chegado o dia marcado, toda a família do Saboeiro veio para a cidade e foi servido um festivo almoço na casa n. 76 da Rua Pe. Sebastião que, àquela época, já era propriedade de Ezequiel Elpídio de Medeiros, esposo de Gizélia. Severino Fernandes (Bibi) não pôde vir. Não veio também Francisco Fernandes (Chico Godofredo), seu irmão, mas enviou-lhe uma correspondência desculpando-se. À tarde, nesta mesma residência, foi oficiado o casamento civil e, ao entardecer, depois de dispensados do impedimento de consanguinidade, Neuza e Chico Mello celebraram o Sacramento do Matrimônio, na Capela do Colégio Santa Teresinha, assistido pelo Pe. Walfredo Gurgel, que, além de primo de ambos, havia sido professor de Neuza naquele educandário.


Padre Walfredo Dantas Gurgel

Terminada a celebração, o hábil e ainda hoje renomado fotógrafo José Ezelino entrou em cena para registrar o enlace, em seu estúdio. Em seguida, foi oferecido um jantar na fazenda Reforma, para onde marcharam, a cavalo, Godofredo Fernandes e demais familiares de Neuza, que carregava um misto de alegria pelo casamento e saudade pela lembrança inseparável da santa mãe, no convívio inesquecível do Saboeiro.

CERTIDÃO DO MATRIMÔNIO

"Aos vinte e cinco de Abril de mil novecentos e trinta e nove na Capela do Colégio depois de feitas as denunciações canônicas, e dispensados do impedimento de consaguinidade em 3°. gr. att ao 2°. assisti ao recebimento matrimonial de Francisco Dantas de Melo e Maria Neuza Fernandes. Solteiros, ele com vinte e três anos de idade f. leg. de José Gonçalves de Melo e Rita Enedina Dantas; ela com dezoito anos, f. leg. de Godofredo Fernandes e Maria Soledade de Araújo Fernandes, falecida. Foram testemunhas: Ezequiel Elpídio de Medeiros e João Dantas de Melo. Naturais e residentes nesta Freguesia. Para constar, mandei fazer este termo, que assino. (Ass.) Pe. Walfredo Gurgel, Vigário."


11. Por isso o homem deixará pai e mãe
e se unirá à sua mulher...

Neuza teria trazido as melhores recordações do tempo que passou na fazenda Reforma, em companhia de sogros e cunhados, não fosse o temperamento difícil de sua sogra e tia Ritinha, a quem Neuza tanto serviu quando aquela envelheceu.


Família de José Gonçalves de Mello (Juca) e Rita Enedina Dantas
Em pé: Zilda, Juquinha, Teresa, Nivardo, Santana, João e Djanira
Sentados: Chico Mello, Ceci, Juca, Ritinha, Beatriz e Adonias

Graças a Deus, Neuza não tardou em ter sua própria casa. Chico Melo fez as demarcações necessárias e construiu sua casa, no lugar chamado Beleza, onde está um açude de bom porte construído por Juca Mello porque, naquele lugar, um homem foi encontrado morto de sede. Quando foram morar na Beleza, na Semana Santa de 1940, Neuza estava grávida. Com ela, naquela ocasião, estava a pequena Lúcia, sua irmã, tratando-se de uma coqueluche que foi debelada com remédios caseiros à base de carrapicho de cigano. Em 03 de junho daquele ano de 1940, nasceu o primeiro filho que recebeu, na pia batismal, o nome de José, em homenagem ao avô paterno. Quando do nascimento dos filhos, Neuza, habitualmente, sugeria os nomes e Chico, os padrinhos.
Na Beleza, moraram e educaram os filhos até o ano da seca de 1958, quando vieram para a propriedade Itans, morar na casa que outrora havia sido feita para Joaquim Vicente e Mariazinha descansarem, em sua velhice. E, por último, em 1965, vieram morar na casa da rua Augusto Monteiro, n. 861, que foi adquirida de Nelson Dantas de Lucena (Nelson Davi). Nessa casa se deu o desfecho final da vida de Chico Melo, encontrado já falecido, em sua rede, na manhã do dia 14 de agosto de 1972. Ele, nascido aos 05 de dezembro de 1915, faleceu com apenas 56 anos de idade.



Chico Mello




Neuza continuou morando nesta casa e, por quase cinquenta anos, foi vizinha das mesmas pessoas. As casas ao lado da sua pertencem a Ignácio de Medeiros Dantas e Áurea Dantas de Melo e ao casal Francisco Pereira Torres (Chico Torres) e Maria de Lourdes Torres. Nesta mesma casa, exalou seu último suspiro, quando faltavam dez minutos para a primeira hora do dia 20 de junho de 2013, assistida por sua filha Rita Neusa de Melo, que a ela se dedicou integralmente e dela cuidou, com o precioso apoio de netos e auxiliares, até o fim, especialmente nos últimos dias, nada lhe deixando faltar de atendimento médico-hospitalar. Com mais de 80 anos, Neuza foi submetida a uma cirurgia laparoscópica de vesícula. Mais tarde, em consequência de uma queda, quebrou o fêmur e obteve pleno êxito na cirurgia feita, mas gradativamente foi se sentindo insegura para andar. Nos seus últimos dias, já não mais queria levantar-se da cama.



Djanira e Juquinha (irmãos de Chico Mello, seu esposo), Neuza, Áurea (sua irmã) e Lourdes de Chico Torres (sua parenta e vizinha)

Maria Neuza Fernandes, que, depois de casada, passou a assinar-se Maria Neuza de Melo, teve o seu corpo velado no Memorial Santa Clara, à avenida Rio Branco, no centro da cidade de Caicó. Pouco depois das 15h30, o féretro foi trasladado para a Catedral de Sant’Ana de Caicó. Às 16 horas, a Santa Missa, concelebrada por Padre Manoel Pedro Neto e Padre Edson Medeiros de Araújo (Pároco de Sant’Ana de Caicó) e presidida por seu neto Padre Gleiber Dantas de Melo, que a aplicou em sufrágio de sua avó Neuza, por seus pais Godofredo e Soledade, por seus avós paternos Ezequiel e Teresa e maternos Joaquim Vicente e Mariazinha, por seu esposo Chico Mello, por seus filhos José, Vivaldo e Bastinho, por suas noras, por seus irmãos, cunhados, concunhados e sobrinhos, primos, ancestrais, benfeitores e amigos.
Naquele fatídico 20 de junho de 2013, ao entardecer, pelas 17h30, seu corpo foi reclinado no último berço de todos os mortais e ali, na sepultura onde estão os corpos de seu esposo Chico e seu filho José, espera a hora de levantar-se do pó da terra e ressuscitar definitivamente.
A Missa de Sétimo Dia foi celebrada na Catedral de Sant’Ana de Caicó, aos 26 de junho de 2013, às 19 horas, presidida por Padre Gleiber Dantas de Melo e concelebrada por Padre Ivanoff da Costa Pereira (Administrador Diocesano “Sede Vacante” de Caicó) e Padre Francisco de Assis Costa da Silva (Vigário Paroquial da Paróquia Nossa Senhora da Guia do Acari).
Em 20 de julho de 2013, com a graça de Deus, a Missa de Trigésimo Dia de sua vida eterna, presidida por seu neto padre, na Catedral de Sant’Ana de Caicó, às 6h30, durante os festejos em honra da excelsa, gloriosa e soberana Padroeira do Sertão do Seridó.

12. A dor desbota, permanece a saudade...

Nesta hora, o que dizer desta mulher que procurou cumprir sua missão de esposa e mãe até o fim, da melhor maneira possível?! Assumiu com tamanha responsabilidade suas tarefas e tanto trabalhou que, em 1951, sofreu de um esgotamento e teve que submeter-se a tratamento médico, em Recife, acolhida que foi por sua irmã Áurea. Novamente submeteu-se a tratamento médico para reencontrar as forças da vida em 1967, em consequência da perda de uma filha, que foi dada à luz estando já morta. Em 1953, deu à luz uma menina que nasceu sem vida. Quando seu esposo faleceu, novamente teve que procurar tratamento médico para recuperar-se e, como das outras vezes, foi atendida pelo médico caicoense, radicado no Recife, Dr. Gil Braz da Nóbrega.
Em todas as horas, a simplicidade foi sua marca distintiva. O que está gravado no livro que compõe a imagem da gloriosa Senhora Sant’Ana de Caicó foi sua regra de vida:



A graça é enganadora e a formosura é vã,
mas a mulher que teme o Senhor é que será louvada
(Prov 31,30).

Soube viver a pobreza repartindo o pouco com quem mais precisava e nunca deixou de acolher os mais pobres, tampouco socorrê-los em suas necessidades. Nunca teve ambições! Suas entranhas de ternura fizeram-na sempre sensível. Sofreu de perto, no matrimônio e na família, os malefícios e outras perturbações causados pelo alcoolismo. Com lágrimas nos olhos, suportou com paciência, no silêncio e na oração, muitas provações. Seu coração, no entanto, não cessava de agradecer a Deus pela família que tinha e por tudo o que vivera. Era feliz por ser filha de Godofredo Fernandes e Maria Soledade e ter nascido no Saboeiro, herdeira da devoção à Sant’Ana de Caicó. Falava de sua história com viva emoção e saudade. No relicário de suas lembranças, guardava todos os seus e em seu coração as luzes estavam sempre acesas, alimentadas pelo óleo de suas preces. A todos acompanhava com o terço da Virgem Maria. Para passar o tempo, gostava de “botar paciência”, jogo com cartas de baralho. Deixa como herança a fé, o amor e a caridade; nada mais, porque isto, para quem aprendeu o que é essencial, é tudo. A vaidade nunca lhe seduziu. Era sempre excessivamente grata por qualquer benefício que lhe fosse feito. A caridade que fez não foi jamais em vão e em cada um dos seus descendentes há de viver para sempre sua imortalidade.
A todos os que dela cuidaram, filhos e descendentes, auxiliares e amigos, em quaisquer fases de sua trajetória de 92 anos, Deus haverá de recompensar!

13. DESCENDÊNCIA
de
Francisco Dantas de Melo
(* 05/12/1915 - + 14/08/1972)
e
Maria Neuza Fernandes de Melo
(* 25/04/1921 - + 20/06/2013)


José Gonçalves Neto quando criança

F 1 - JOSÉ GONÇALVES NETO nasceu em 03 de junho de 1940, na Rua Pe. Sebastião, 76, apanhado por Mãe Quininha, e faleceu no dia 01 de fevereiro de 1976. Foi não somente o primeiro filho que Neuza ganhou, mas também o primeiro que teve a desdita de sepultar, daqueles que chegaram à idade adulta. Seus padrinhos de batismo: o avô materno, Godofredo Fernandes, e sua segunda esposa, Emília.
Casou com Maria Alice Gonçalves (* 30/12/1940 - + 28/11/2002), filha de Francisco Emídio de Lucena (Emídio Caboclo) e Maria Senhora da Conceição.
N 1 - Leci Lucena Melo de Arruda (* 06/08/1961 - +11/06/2002)
BN 1 - Joseilson Lucas Melo de Arruda (* 27/02/1998)
BN 2 - Joelice Luísa Melo de Arruda (* 26/04/2002)
N 2 - Neci Lucena Melo (* 21/07/1962)
N 3 - Ozeni de Melo Pereira (* 13/09/1963)
BN 3 - Adriana de Melo Pereira (* 17/05/1986)
BN 4 - Ozeane de Melo Pereira (* 22/07/1987)
BN 5 - Jaciane de Melo Pereira (* 02/07/1989)
N 4 - Zeni Lucena Melo [Pequena] (* 06/08/1964)
N 5 - Levi Gonçalves de Lucena (* 14/03/1966)
BN 6 - Tiago de Melo Lucena (* 04/06/1991)
BN 7 - Taisi de Melo Lucena (* 23/04/1992)
BN 8 - Tiêgo de Melo Lucena (* 17/08/1996)
N 6 - Jadir Gonçalves de Lucena (* 02/08/1970)
BN 9 – Jardel Gonçalves Pereira (* 11/01/1996)
BN 10 - Jaelson Gonçalves Pereira (* 29/05/1997)
N 7 - Cely Lucena de Melo (* 11/01/1972)
N 8 - Maria de Fátima Lucena (* 24/01/1973)
BN 11 - Joyce Lucena Cavalcanti (* 01/11/2009)
N 9 - Ana Maria Gonçalves (* 01/12/1975)
BN 12 - Anielly Bruna Gonçalves Ferreira (* 23/03/1998)
BN 13 - Alanna Kelly Gonçalves (* 27/07/2001)


Neuza com o filho Valter

F 2 - VALTER DANTAS DE MELO nasceu no dia 28 de agosto de 1941, na Rua Pe. Sebastião, 76. Seus padrinhos de batismo: os avós paternos, José Gonçalves de Melo (Juca Melo) e Rita Enedina Dantas.
Casou com Zilda Bezerra de Melo (* 05/07/1948), filha de Joaquim Bezerra Filho (Quinca Bezerra) e Sebastiana Bezerra de Araújo (Taninha).
N 10 - Rivaldo Dantas de Melo (* 19/01/1966)
BN 14 - Rivagner Sales de Melo (* 10/09/1983)
TN 1 - Emily Rayssa Martins de Melo (* 13/01/2007)
TN 2 - Rian Ewerton Martins de Melo (* 08/02/2009)
BN 15 - Juliana Gomes de Melo (* 19/11/1988)
TN 3 - Rodrigo Saulo Gomes de França (* 20/04/2006)
N 11- Erivaldo Dantas de Melo [Guri] (* 08/12/1966)
BN 16 - Ana Clara Bezerra de Melo (* 25/03/1993)
N 12 - Rinaldo Dantas de Melo (* 25/03/1968)
BN 17 - Thaíse Costa de Melo (* 27/05/1991)
BN 18 - Taiane Costa de Melo (* 20/08/1997)
N 13 - Erinaldo Dantas de Melo (* 21/07/1973)
BN 19 - Bruna Élida Amâncio de Melo (* 15/07/1996)
BN 20 - Ana Beatriz Amâncio de Melo (* 29/07/1999)

F 3 - SINVAL DANTAS DE MELO nasceu no dia 16 de maio de 1943, na Casa Grande da fazenda Reforma, apanhado por Josefa Enedina Dantas (Zefinha), filha do Coronel Bembém Dantas. Seus padrinhos de batismo: Ezequiel Elpídio de Medeiros e Maria Gizélia Fernandes de Medeiros (Inha).
Casou com Maria Salete Araújo de Melo (* 19/07/1944 - + 13/06/1996), filha de Inácio Clemente de Araújo e Belízia Euzébia Viana de Araújo.
N 14 - Neubete Dantas de Melo (* 01/01/1966)
N 15 - Francisco de Melo Neto (* 08/02/1967)
BN 21 - Daliany Rucely Bastos de Melo (* 31/05/1988)
BN 22 - Débora Cecília Bastos de Melo (* 04/10/2001)
N 16 - Maria Neuma de Melo Souza (* 24/05/1969)
BN 23 - Elza Carla Melo de Souza (* 08/11/1993)
BN 24 - Élida Kaline Melo de Souza (* 31/03/1997)
N 17 - Neuzelli Dantas de Melo (* 28/06/1978)
BN 25 - Dhérick Darlan de Melo Medeiros (* 07/11/1995)
BN 26 - Dhelmann Salete de Melo Medeiros (* 04/10/2001)

F 4 - DJALMA DANTAS DE MELO nasceu na casa da Beleza, no quarto que dá para os currais, na madrugada do dia 17 de fevereiro de 1945. Como a criança custasse a nascer, Chico Mello foi à fazenda Reforma pedir que sua mãe Ritinha viesse aplicar em Neuza uma injeção que facilitava o nascimento da criança quando a mãe já estava em trabalho de parto. Como Ritinha não pudesse vir, Chico Mello trouxe o estojo clínico e, pela primeira vez, aplicou a injeção de Pituitrina. O parto foi acompanhado por Josefa Enedina Dantas (Zefinha), filha do Coronel Bembém Dantas. Seus padrinhos de batismo: dois tios paternos, Nivardo Dantas de Melo e Teresa Dantas de Melo.
Casou com Marlene Medeiros de Melo (* 29/01/1949), filha de José Bernardo de Medeiros e Maria Ramalho de Medeiros.
N 18 - Gleiber Dantas de Melo (* 10/12/1977)
N 19 - Gilnei Dantas de Melo(* 07/09/1979)



Neuza recebendo a comunhão de seu neto padre, na noite de sua Ordenação Presbiteral, na Catedral de Sant'Ana de Caicó, em 13 de dezembro de 2002


Por ocasião da Primeira Missa de seu neto padre, Neuza conduz ao altar, durante o ofertório, o terço que Mons. Walfredo Dantas Gurgel deu à sua genitora, Mãe Quininha
Catedral de Sant'Ana de Caicó, 14 de dezembro de 2002
I Encontro da Família Dantas das Oiticicas


F 5 - FRANCISCO MELO FILHO (Chiquinho) nasceu na Rua Pe. Sebastião, 76, apanhado por Joaquina Dantas Gurgel (Mãe Quininha), filha do Coronel Bembém Dantas, no dia 23 de julho de 1946, em plena Festa de Sant’Ana. Seus padrinhos de batismo: José Torres de Araújo e Djanira Melo Torres, sua tia paterna.
Casou com Maria Torres Moreira de Melo [Sueli] (* 17/03/1953), filha de Francisco Moreira Sobrinho e Maria Ferreira de Oliveira, com quem gerou o primeiro filho. Depois lhe faleceram dois filhos gêmeos. Com Mariana Medeiros de Araújo Melo (* 04/09/1946), filha de Alfredo Bezerra de Araújo e Joana Julinda de Araújo, iniciou segunda vida matrimonial, com dois filhos.
N 20 - Marcelo Moreira de Melo (* 18/08/1970)
BN 27 - Marcela de Lima Melo (* 03/12/1996)
BN 28 - Manassés de França Melo (* 18/06/2006)
N 21 - Leila Medeiros Melo (* 22/04/1978)
BN 29 - Gael Medeiros Melo (* 28/11/2004)
BN 30 - Teo Medeiros Melo (* 19/04/2012)
N 22 - Hélder Medeiros Melo (* 26/03/1980)
BN 31 - Mariah Lustosa Melo (* 05/09/2012)

F 6 - MARIA SOLEDADE DE MELO PEREIRA (Dadá) nasceu na casa da Beleza, apanhada por Josefa Enedina Dantas (Zefinha), filha do Coronel Bembém Dantas, aos 11 de dezembro de 1947. Seus padrinhos de batismo: o casal José Adonias Dantas de Melo, seu tio paterno, e Hércia Nóbrega de Melo.
Casou com Valter Pereira da Silva (* 09/02/1942), filho de Antônio Pereira da Silva Sobrinho e Nair Luíza Pereira.
N 23 - Silvana Dayse de Melo Pereira Dias (* 16/10/1973)
BN 32 - Rafael Melo Pereira Dias (* 11/08/2004)
N 24 - Wélber Darley de Melo Pereira (* 17/09/1976)
BN 33 - Mateus da Silva Melo Pereira (* 18/03/2010)
BN 34 - Melissa da Silva Melo Pereira (* 03/10/2012)
N 25 - Wésley Darlan de MeIo Pereira (* 10/11/1980)

F 7 - SEBASTIÃO DE MELO (Bastinho) nasceu na Rua Pe. Sebastião, 76, apanhado por Joaquina Dantas Gurgel (Mãe Quininha), filha do Coronel Bembém. Seu nascimento se deu no dia 20 de janeiro de 1950. Tendo vindo para a Missa de São Sebastião, na Catedral, Godofredo Fernandes, seu avô, retornou para o Saboeiro passando pelo Riacho do Meio, para dar a notícia do nascimento a Ezequiel e Gizélia (Inha). Esta lhe perguntou o nome da criança, ao que Godofredo respondeu: “Minha filha, o menino nasceu no dia de São Sebastião, na hora da Missa de São Sebastião e na Rua Pe. Sebastião... só pode ser Sebastião!”. Seus padrinhos de batismo: o casal Severino Fernandes (Bibi), seu tio materno, e Corina de Araújo Fernandes. Faleceu no dia 20 de junho de 2011.
Casou com Maria Goréte da Silva Soares Melo (* 25/05/1953), filha de Francisco Vicente Soares e Maria Augusta da Silva Soares.
N 26 - Daniel Jorge Soares de Melo (* 28/03/1989)


Neuza e alguns de seus filhos
Sinval, Chiquinho, Bastinho, Dadá, Ritinha e Djalma
Catedral de Sant'Ana de Caicó, em 25 de julho de 2006

F 8 - uma criança do sexo feminino, nascida em 1953, sem vida.

F 9 - GERALDO DANTAS DE MELO nasceu na casa da Beleza, apanhado por Zefinha de Julião, no dia 08 de outubro de 1954. Seus padrinhos de batismo: o casal José de Anchiêta Fernandes, seu tio materno, e Denise Dantas Fernandes.
Casou com Mariana de Queiroz Melo (* 14/11/1953), filha de Severino Luiz de Queiroz e Severina Maria de Queiroz.
N 27 - Flávio Dantas de Melo (* 07/05/1981)
BN 35 - Jéssica Mirelli de Melo (* 23/07/1999)
N 28 - Geraldo Dantas de Melo Júnior (* 26/09/1984)
BN 36 - Lara Tayná de Medeiros Melo (* 27/04/2011)
N 29 - Priscila Neuzanete de Melo (* 16/01/1988)
BN 37 - Victor Gabriel de Melo Medeiros (* 30/05/2010)

F 10 - VIVALDO DANTAS DE MELO nasceu no dia 25 de dezembro de 1955, na casa da Beleza, apanhado por Zefinha de Julião. Mas até que a parteira chegasse, Neuza teve que aguentar sozinha as dores do parto. Quando se aproximou a hora de dar à luz, encontrava-se só com os filhos, pois Chico Mello tinha vindo para a feira. Pediu, então, que um dos mais velhos fosse em casa de Juca Mello avisar à sua tia e sogra Ritinha que mandasse trazer Zefinha de Julião. Esta, por sua vez, encontrava-se na cidade, a fim de comemorar a Noite de Natal. Nesse meio tempo, chega Chico Mello com Hieronides Dantas, seu primo, filho de Josefa Enedina Dantas (Zefinha). A providência tomada, no momento, foi pedir que Belmina (esposa de Hieronides, bisneta do Coronel Bembém Dantas) fosse ficar com Neuza enquanto Chico Mello vinha até à cidade chamar Zefinha. Realmente, Zefinha foi encontrada, mas não havia automóvel para conduzi-la. Até que enfim apareceu um jipe de Stoessel de Brito, sem, contudo, um motorista para guiá-lo. Quem foi, graças a Deus, guiando o automóvel foi Zé Piraca. Seus padrinhos de batismo: o casal Manoel Vicente Dias de Araújo (Nezinho Vicente), tio materno de Neuza, e Orcinéa Araújo.
Este foi o segundo filho que Neuza teve a infelicidade de sepultar, falecido no dia 18 de agosto de 1998. Casou com Laura Salustiana Araújo Melo [Lalita] (* 15/11/1952), filha de Salustino Salustiano de Araújo e Laura Araújo.
N 30 - Eduardo Araújo de Melo (* 05/09/1985)
N 31- Liana Araújo de Melo (* 20/07/1987)

F 11 - PAULO TÁCIO DE MELO nasceu em 06 de junho de 1960, na casa das Itans, apanhado por “Comadre” Dondon, filha de Josefa Enedina Dantas (Zefinha). Seus padrinhos de batismo: o casal Joaquim Adonias de Azevedo (Quinca Aureliano) e Eudócia Dantas de Melo, prima legítima de Chico Mello.
Casou com Maria Cabral Pereira Melo (* 22/01/1961), filha de Nino de Brito Pereira e Julita Cabral Pereira.
N 32 - Taciana Cabral de Melo (* 12/03/1996)


Neuza e alguns de seus netos
Daniel, Zeni (Pequena), Pe. Gleiber, Cely, Taciana, Neuma, Gilnei e Silvana




Neuza e alguns de seus bisnetos
Joseilson Lucas, Joelice Luísa, Élida Kaline, Elza Carla, Débora Cecília, Rafael e Daliany
Catedral de Sant'Ana de Caicó, 25 de julho de 2006


F 12 - RITA NEUSA DE MELO (Ritinha) nasceu no dia 27 de março de 1963, também na casa das Itans, apanhada igualmente por “Comadre” Dondon. Seus padrinhos de batismo: o casal Francisco Fernandes (Chico Godofredo), seu tio materno, e Lindalva.

F 13 - uma criança do sexo feminino, nascida em 1967, sem vida.




OREMOS.
Pai, que sois o senhor dos vivos e dos mortos
e vos compadeceis de todos,
concedei que nossos irmãos e irmãs,
tendo alcançado o perdão pela vossa clemência,
sejam eternamente felizes na vossa amizae
e vos louvem para sempre.
Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho,
na unidade do Espírito Santo.

JACULATÓRIA rezada por Neuza Fernandes, tantas vezes:
Jesus, para vós vivo.
Jesus, para vós morro.
Jesus, vossa sou, na vida e na morte. Amém.



HINO DE SANT’ANA DE CAICÓ
Letra: Palmira e Carolina Wanderley
Música: Prof. Manoel Fernandes (tio de Neuza Fernandes)

Senhora doce e clemente,
Mãe da Graça e do Perdão,
abrigai-nos docemente
dentro em vosso coração.
Salve, Sant’Ana gloriosa,
nosso amparo e nossa luz.
Salve, Sant’Ana ditosa,
terno afeto de Jesus.
Vossos filhos desta terra
vos suplicam que sejais
o seu refúgio na guerra
e sua alegria na paz.






Recife, 10 de julho de 2013.
Gleiber Dantas de Melo, padre

N. 18

Postagem: 29 de novembro de 2015

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